8 de março de 2012: Catarina Martins (FLUC /CES)
“La Noire de…” tem nome e tem voz. A narrativa ficcional de mulheres africanas anglófonas e francófonas.
O cânone da literatura africana é constituído maioritariamente por homens, o que significa que a representação dominante da mulher africana é uma construção masculina. Este cânone é marcado ainda pelas resistências anticoloniais do período das independências, no qual os projectos nacionalistas, de cunho patriarcal, construíram para as mulheres uma posição subalterna na idealização da Mãe África ou da Mulher como corporização simbólica da Nação. A estas acresce outra ocupação: a do feminismo ocidental, cuja universalização é denunciada como uma prática colonial exercida sobre as mulheres negras do Sul. A literatura de mulheres africanas é um dos lugares onde prossegue o debate sobre os feminismos e sobre o dilema fundamental entre a busca de solidariedades transnacionais e a expressão das experiências concretas de vida das mulheres nestes contextos. Através da análise de algumas das temáticas de narrativas de mulheres anglófonas e francófonas da África subsaariana, dos anos 60 à actualidade, este artigo pretende cartografar, mesmo que sumariamente, alguns destes debates.
10 de novembro de 2011: Sílvia Portugal (FEUC /CES)
Mulheres, trabalho e família: uma reflexão a partir do modelo do sul
O seminário parte da reflexão acerca dos regimes de produção de bem-estar para mostrar como a análise do modelo do Sul e, especificamente, da realidade portuguesa coloca em causa as perspectivas dominantes e chama a atenção para a necessidade de integrar dimensões analíticas tradicionalmente esquecidas: o papel crucial da família na protecção social, a centralidade do trabalho feminino ao nível dos cuidados, o impacto diferenciado das políticas públicas para homens e mulheres.
Evidencia-se a importância das especificidades da situação e do papel das mulheres para perceber a provisão de bem-estar em Portugal. A elevada participação das mulheres no mercado de emprego formal e informal, a responsabilidade feminina pelo trabalho de reprodução familiar, a escassez de equipamentos sociais de apoio à família, a persistência de traços familistas na formulação das políticas públicas são alguns dos factores que definem o modelo de produção de bem-estar português e acentuam a sua excepcionalidade no contexto europeu.
……………
3 de novembro de 2011: Maria Antónia Lopes
“Mulheres portuguesas: imagens e vivências nos sécs. XVII-XIX e alguns mitos atuais”
As imagens da mulher (no singular e veremos porquê) veiculadas pelos discursos dominantes entre os séculos XVII e XIX mudaram. A opinião comum atual atribui a um passado anterior o que, na realidade, foi o estereótipo feminino prevalecente em Oitocentos: um ser emotivo e frágil que necessitava de uma tutela masculina racional e forte. Mas nos séculos anteriores as elites ideológicas insistiam em outros aspectos: a perversidade e a perigosidade das mulheres. Em comum, partilhavam a crença na sua inferioridade.
Continua a afirmar-se que as mulheres entraram no mercado laboral durante o século XX e que até então estavam confinadas ao seu espaço doméstico. Trata-se de uma asserção totalmente errónea. À excepção das ordens privilegiadas – uma ínfima parte da população – , as mulheres portuguesas e europeias inseriam-se plenamente no mercado de trabalho. Produziam, transformavam, comercializavam, vendiam serviços. Sem elas, as economias e as sociedades paralisavam.
Entre tantos quotidianos que se poderiam abordar, falar-se-á de um grupo específico das ordens privilegiadas: as freiras. Ver-se-á que em comum com as religiosas actuais pouco mais têm do que o nome. E como foi difícil à hierarquia eclesiástica impor-lhes as suas normas.
Com estes três temas, pretende-se alertar para a facilidade com que se cai em anacronismos, dada a tendência comum para projectar para um passado mais remoto o que não passa de memória de um passado recente. Equívoco que decorre da equiparação de memória e história e esquecendo que esta significa simultaneamente devir histórico e conhecimento histórico.
……………………………………………………………………………
28 de outubro de 2011: Aymée Rivera Pérez:
“¿Cómo asumir y dignificar una voz subalterna en el discurso literario? Contribuciones intelectuales y artísticas de escritoras negras caribeñas en el camino del empoderamiento identitario.”
La asunción de una identidad racial en cualquier autor es una elección personal, cultural e histórica y también un proceso estético-ideológico muy complejo, contradictorio y de connotaciones tan diversas como las poéticas que pueden encontrarse entre los mejores escritores negros, blancos, árabes o judíos en todo el mundo.
El análisis particular de tales poéticas desde este enfoque étnico, es casi inexistente en el campo literario caribeño. Al realizarlo, se encuentran satisfacciones, contradicciones, desconciertos, pero sobre todo, esclarecedoras lecciones sobre su entramado identitario y su pluralidad. A la vez, desvela esa peculiar producción literaria que tematiza y problematiza -cruzándolos con otras importantes diferencias- asuntos relativos al negro como autor y sujeto literario, conflictos raciales, sexuales, religiosos, clasistas y, a la vez, ausencias temáticas, historiográficas e ideológicas.
Muchos escritores negros que en los momentos iniciales de su carrera literaria no abordaban asuntos o problemáticas raciales en sus textos, han venido reajustando sus presupuestos temáticos, en sus últimos textos.
Al constituir minorías, sucede con frecuencia, que las escritoras negras son pensadas solo en términos estadísticos y no socioculturales. Esta singularidad monocromática del campo intelectual caribeño, no presupone la asunción ni la celebración de una conciencia racial, más bien, reproduce en el discurso hegemónico sus presupuestos eurocéntricos.
No es suficiente la identificación del color de la piel con la desalienación de un proceso transculturizador globalizante. No se trata solo analizar la posibilidad de autorepresentación de la mujer negra como sujeto escritor e intelectual, sino de demostrar su capacidad de desenajenación para subvertir el discurso hegemónico que condena su obra y/o su condición racial a una posición subalterna.
Las contribuciones intelectuales y artísticas de las mujeres afrodescendientes no han recibido la atención necesaria en los países de la cuenca caribeña, y mucho menos, desde una perspectiva de género que descubra las trampas de los discursos que ofrecen una identidad de mujer sujeta por su peculiar naturaleza, vinculada inexorablemente al estereotipo y /o la invisibilidad.
Las obras de negras escritoras contemporáneas del Caribe, entre las que se encuentran: Nancy Morejón, Georgina Herrera, Excilia Saldaña, Inés María Martiatu, Daysi Rubiera, Mayra Santos Febres, Esmeralda Santiago y Aida Cartagena Portalatín demuestran que se puede apelar a la literatura como instrumento de reconstrucción identitaria y empoderamiento de la mujer afro-descendiente.
………………………………
20 de outubro de 2011: Lina Coelho
O(s) Discursos(s) Feministas em Economia
As(os) autoras(es) feministas partilham a perspetiva de que a Ciência Económica omitiu tradicionalmente os contributos das mulheres para a produção e o bem-estar social e, nessa medida, abordou a realidade económica de forma truncada e parcial. O seu propósito comum é, pois, contribuir para capacitar a disciplina para abordagens mais abrangentes e universais, explicitando o papel económico específico das mulheres e da família e as condicionantes a que estas estão sujeitas enquanto agentes económicos. Põe-se, assim, ênfase em dimensões da vida habitualmente ausentes da análise económica, como sejam, o valor do trabalho não remunerado no seio da família ou as normas e valores que determinam um contrato social particular entre os sexos, em cada sociedade, conduzindo a desigualdades de acesso aos recursos económicos e desembocando em soluções ineficientes, porque limitadoras do contributo das mulheres na medida ajustada às suas capacidades e competências.
……………………..
19 de Maio de 2011
Pedro Moura
“O meu corpo é uma fonte de entretenimento sem fim’. Auto-representações do corpo feminino na banda desenhada anglófona contemporânea”
Enquanto disciplina artística, a banda desenhada encontra-se numa fase global de grande expansão no que diz respeito aos seus géneros, distribuição, intermedialidade e investigação académica. Porém, a sua percepção social enquanto modo cultural menor, literatura infanto-juvenil ou escapista ainda a torna campo de mal-entendidos e desconhecimento.
Esta apresentação visa construir uma panorâmica histórica alargada que pretende moldar e amplificar as perspectivas em relação à banda desenhada, demonstrando tratar-se de um território digno de estudo, com grandes desenvolvimentos do seu próprio instrumentário crítico.
É nesse quadro que se explorará mais pormenorizadamente o papel das personagens femininas na banda desenhada norte-americana, tendo atenção à sua história específica, criada no cadinho da imprensa popular, da literatura pulp ou para adolescentes, em que as mulheres assumiam muitos dos papéis que lhes estavam reservados na economia dos géneros mais reconhecidos, com algumas excepções. As cenas dos “underground comix” dos anos 1960 e, mais tarde, “alternativa” dos anos 90 trariam abordagens diferenciadas, mais realistas, positivas, e, mais importante, pela voz das próprias mulheres enquanto criadoras. É nesse sentido que o tema da auto-representação se torna ponto principal da nossa conversa, de um punhado de autoras de banda desenhada contemporânea anglófona. Questões como a representação do corpo enquanto território, com peso e tangibilidade física real, a resistência a modelos de beleza ou de expectativas societais determinadas pelo género ou sexo, a exploração do quotidiano, a inscrição em histórias e memórias familiares mais alargadas são centrais nesta problemática. O facto de muitas das autoras abordadas trabalharem no género da autobiografia, ou que bebem substancialmente da autobiografia, torna o adágio de que “o pessoal é político” de uma expressiva pertinência.
7 de Abril de 2011
Liana Sakelliou (Universidade de Atenas)
“Representations of Women in Film through Music”
The seminar examines the woman as an object of artistic creation and focuses on the ways she is represented, directly or indirectly either as a negative substance, or as the “other” sex — indefinable and threatening— in the art of cinematography. Several arguments are also developed in relation to the limitation and possibilities that are contained within the conventions of realism and of the avant-garde with reference to the representation of conventional models and their reversal.
Movies discussed: “Gilda” by Charles Vidor, 1946;“Casablanca” by Michael Curtiz, 1943; “The Piano” by Jane Campion, 1993; “The Portrait of a Lady” by Jane Campion, 1996; “Orlando” by Sally Potter, 1992; and “Mulholland Drive” by David Lynch, 2001.
10 de Março de 2011
Juan Rojas Joos
Ohio Wesleyan University
“Sangre mía, sangre de todas: femicidio y literatura en la frontera México/EEUU”
A partir de los años noventa en la producción literaria en Ciudad Juárez, Chihuahua, se observa un fenómeno socioliterario comprometido a raíz del incremento de violencia intensa en contra de las mujeres y de la sociedad en general. Este notable surgimiento de obras literarias sociopolíticamente comprometidas forman parte de un debate emocional e intelectual sobre la construcción de una identidad femenina juarense y la reevaluación, o reinvención del concepto de la imagen de la violencia misma tanto como de la imagen de la mujer misma. Este movimiento literario, como se ha afirmado, coincide con un período intenso de violencia contra las mujeres en el cual, en promedio, desaparecen, violan, matan y arrojan el cadáver de una mujer al desierto por semana. Como consecuencia hombres y mujeres examinan sus roles e imágenes en la sociedad. Sería actualmente engañoso afirmar que el feticidio ha disminuido cuando en realidad se oculta tras el incremento de la violencia debido a la guerra de los cárteles.
24 de Fevereiro de 2011
Arantzazu Saratxaga
Universidad Pompeu Fabra (Barcelona) e Hochschule für Gestaltung (Karlsruhe)
“Mitos Matriciales en la historia del pensamiento occidental”
No podemos hablar de la representación mitosimbólica de la madre en la historia del pensamiento occidental sin citar a Bachofen. Un análisis de recepción de la figura de la madre, significa muy en parte un análisis de la recepción de las teorías del matriarcado de Bachofen, su pionero. Se entiende que Bachofen haya abierto la veda a la investigación de la madre como emblema central en la historia del desarrollo de las culturas en la medida en que trata de situar el derecho materno en el centro del desarrollo religioso de las antiguas culturas.
El matriarcado como estructura social, con sus símbolos y códigos, no es a juicio de Bachofen una especialidad exótica localizada en el sur de Asia, sino un orden social de una determinada época cultural, cuyo desarrollo ha abarcado las regiones de la India, Persia, Egipto, y el este del mediterráneo. No solamente se trata de exponer el desarrollo de las culturas a partir del rol o del papel del culto a la Gran Madre; sino de postular que el fundamento de la evolución de las culturas descansa en el derecho materno.
Mi intervención trata de desarrollar los siguientes postulados:
Explicación y análisis crítico de las ideas rectoras de la reconstrucción filosófica de la obra de Bachofen en el contexto de la escuela de Basilea (bachofen, Nietzsche, Jung)
Acercamiento a las investigaciones sobre el matriarcalismo desde la ciencia de las religiones. La teorías que explican las fases transitorias de sociedades matriarcales a sociedades patriarcales parten de un desarrollo evolutivo de la representación de la divinidad femenina. La diosa femenina es el primer nivel de la historia de la creación. En las fases posteriores, la diosa se asocia a un hombre, el marido o hijo hasta que Zeus vence la contienda contra los hijos del espíritu de la tierra, Gea. Los Titanes son arrojados al reino de los Tártaros. El triunfo de la divinidad patriarcal sobre la diosa madre marca la religión de un crimen originario (Suzanne Blaisé). Desde que el dios del Olimpo ganó la guerra contra los titanes, dejó de verse en la madre embarazada el principio de creación de mundo en lid de un único Padre no reproductor (aus dem Nichts zeugende Vater). La creación como concepción viene determinada por dos restricciones: de un lado el límite con la creation orignalis, que sostiene que la creación del Dios no apela a un principio matérico de vida, esto es, la divinada se concibe desde la nada (ex nihilo); y por el otro lado, se construye la lucha de las religiones de Yawhe contra la divinización de la naturaleza, el panteísmo. La transferencia de una sociedad matriarcal a una sociedad patriarcal será la preocupación de los mitólogos y teóricos de la religión. Jospeh Campbell sostiene por ejemplo que la transferencia no se ha dado por completo. El recuerdo de las fases anteriores en referencia a lo numinoso dibuja la vuelta a lo santo en una doble función de las Euiménides y de las Erinias en la tragedia griega, por ejemplo.
Presentar las diferentes tesis de las teorías del matriarcalismo y sus derivados (matrilinealidad, matrilocalidad…). La obra de Bachofen ha gozado de una tremenda y prolífica recepción. Su trabajo ha abierto un nuevo campo de investigación, luego colonizado por estudios interdisciplinares. Ésta podría tildarse de una recepción crítica que amplía el campo de investigación de la Madre como principio arquetípico de orden social, cultural y religioso. Bachofen formalizó un discurso cultural sobre la idea de la realidad femenina en el centro mitosimbólico del desarrollo de las civilizaciones. Claro que esta cuestión ha dado pie a desarrollar tal hipótesis bajo diversos dominios. Desde la escuela de mitólogos y cósmicos alemanes del círculo de Munchen (Ludwig Klages con “Die Magna Mater”, ”Von kosmogonischen Eros”; Alfred Schuler con “Mutterdunkel”) hasta las teorías marxistas y de la crítica de la cultura, con Friedrich Engels, August Bebel, Max Horkheimer y Ernst Bloch, pasando por la veda literaria de Thomas Mann y Rilke, las teorías psicológicas y psicoanalíticas (Erich Fromm, Erich Neumann, Mathilde u Mathias Vaerting, Paul Krische) los estudios etnológicos (Bronislaw Malinowski, Wihelm Reichs Malinowski-Interpretation, Wilhelm Schmidt, Claude Lévi-Strauss und Robert Briffault) los estudios arqueológicos (James Mellaart, Marija Gimbutas) el campo de la historia de las culturas e historia de las religiones (Frazer, Mircea Eliade, Robert von Ranke-Graves) y las teorías feministas (Mathilde Vaertin, Bertha Ecksein- Diener und Josefer Schreier, Elizabeth Gould-Davis) podríamos decir que el recurso del matriarcado ha disfrutado de un enorme éxito.
Aproximación al desarrollo de una filosofía ginecológica como arqueología de la conciencia del pensamiento occidental. La recepción de las teorías del matriarcado de Bachofen ha contribuido a a una crítica de la formación psicológica, las teorías de parentesco, la estructura social, política y económica de las culturas de occidente; esto es, en una palabra, ha ejercido de crítica a una metafísica falocéntrica y a la constitución de una cultura configurada sobre bases patriarcales.
9 de Dezembro de 2010
Teresa Joaquim
Professora da Universidade Aberta, Coordenadora do Mestrado Estudos Sobre as Mulheres
“Criação de Humanos e/ou de conceitos: a questão da maternidade”
Pretendo fazer, neste seminário, um percurso das questões que se colocaram aquando do meu trabalho Dar à luz, ensaio sobre as práticas e crenças da gravidez, parto e pós-parto em Portugal (D. Quixote: 1983) e que se prendem com as que encontrei ainda no meu trabalho Menina e Moça. Construção Social da Feminilidade – séculos XVII-XIX (Fim de século: 1997). Neste último, deparei-me com a dificuldade das mulheres acederem à abstracção: as mulheres são criadoras de corpos, não de princípios. De certo modo esta é uma oposição encontrada, desde a Antiguidade, entre fazer uma obra que permanece e a criação de humanos (que são mortais). Saindo da oposição entre inovação e repetição, como pensar na actualidade que as mulheres possam ser acreditadas de outra coisa para além da vida que dão?
18 de Novembro de 2010
Stefania Barca
Investigadora do Centro de Estudos Sociais (UC)
Women and ecology: an environmental history perspective
Is there a gender issue within the environmental issue? Have women borne the dangers of pollution, resource depletion and ecological disruption more, or in different ways than men? How have women scientists seen the connections between environmental and human health? What role has science played in the shaping of a masculine perception of nature, as distinct from the feminine?
Starting from a critical reading of Carolyn Merchant’s seminal work on ecology and eco-feminism, the lecture will give an overview of how these and other questions have been posited in the environmental history literature.
Reading: C. Merchant, ‘Eco-feminism’, in Radical Ecology. In Search for a Livable World, (London: Routledge, 2005), 194-222
7 de Outubro de 2010
Feminismos em Portugal: percursos históricos
Manuela Tavares
Doutorada em Estudos sobre as Mulheres, Universidade Aberta
Investigadora no CEMRI, UAb
A memória histórica dos feminismos da primeira metade do século XX esfumou-se, por influência do regime ditatorial do Estado Novo, com uma ideologia de submissão das mulheres e pelo pensamento dogmático das esquerdas políticas, que não souberam captar a dimensão plural dos feminismos e as contradições de género na sociedade. A falta de entrelaçamento das questões democráticas e de classe com as de género foi uma das causas da diluição do feminismo no antifascismo.
Apesar das transformações democráticas do país após Abril de 1974 e da grande participação das mulheres, a palavra “feminismo” permaneceu fora da linguagem política e a despenalização do aborto só conseguiu ser alcançada no novo milénio.
Ao contrário do que seria de supor, nas décadas de 1970 e de 1980 existiram expressões do movimento feminista em Portugal protagonizadas por três correntes: radical, socialista-marxista e liberal. A fragilidade teórica e a falta de debate foram características dos feminismos da época. Contudo, foi a corrente radical do feminismos que melhor protagonizou a luta pela despenalização do aborto e a sua inclusão na agenda política.
Sendo a capacidade de interrogação uma das características das teorias feministas, torna-se importante, mostrar as suas fragilidades, os períodos de latência e de “erupção”, no dizer da historiadora Karen Offen (OFFEN, 2008: 39). No momento actual é preciso lançar pistas para uma reconfiguração das correntes feministas, tendo em consideração o contexto de diferentes vivências das mulheres no país e num mundo globalizado.
A grande evolução no estatuto das mulheres portuguesas nas últimas três décadas não esgota as razões para uma agenda feminista, ampla e exigente, no respeito por um sujeito feminista plural, que tenha em consideração as diferenças entre as mulheres, em termos de etnia, classe social, região de pertença, orientação sexual, religião e idade.